segunda-feira, 28 de abril de 2025

ABORRESCÊNCIA, DA NETFLIX

Estava curtindo uma longa série com meu companheiro, chamada PRISON BREAK [se eu não esquecer, em breve pretendo falar sobre ela], quando a internet começou a mostrar muitas postagens em tudo que foi lugar, sobre o lançamento da Netflix: "Adolescência". 

Teve quem focou na toxicidade do menino, no intuito de comparar o comportamento dele em relação ao da vítima; 

teve quem focou no grande drama dos filhos estarem dentro de casa com os pais e, ao mesmo tempo, imersos em mundo mundo completamente desconhecido na Internet, fazendo sabe-se lá o quê; 

houve quem preferiu abordar como envelhecemos neste universo digital, sendo que a maneira como utilizamos simples emojis [aqueles desenhos de carinhas e corações e foguinho etc.] é discrepante ao entendimento que a molecada está atribuindo a cada uma daquelas figurinhas, que agora compreendo que não são tão inofensivas assim. Eu vivo curtindo com coraçõezinhos vermelhos as postagens dos amigos em rede social. Eu achava fofo, que queria dizer que gostei muito, uma epécie de apoio moral e tal. Descobri que, aos olhos da molecada, eu sou a putona-mor da Internet, pois fico ali de sorrisinhos e insinuções para todo mundo;

e vi posts reflexivos sobre bullying e até sobre racismo. 

Quando finalmente terminamos toda PRISON BREAK, resolvemos ver "Adolescência". 

Foi como sair da água e se lambrecar no óleo.

Esse drama de 4 episódios poderia ter sido resumido em apenas 1. Muita encheção de linguiça para uma pauta óbvia e cheia de causas as quais foram jogadas apenas para que todo mundo fosse para a Internet e fizesse exatamente o que fizeram: suas considerações, reflexões, convicções, até mesmo grandes lições moralistas, de forma que enaltecesse a série por abordar tão significativos pontos. A-ham...

O único episódio que realmente teve conteúdo foi o terceiro. Vemos um guri de 13 anos que parece ter 9 e nenhum pingo de juizo, só que uma inteligência de Einsten. 

Ele engana. Negou ter cometido o crime. E você realmente acredita. Você quer acreditar. 

Vemos um pequeno psicopata mestre em dissimular. Poucos brasileiros captarão o comportamento dele, pois a sociedade está se idiotizando de uns anos para cá, graças às novelas e demais entretenimento nacional cada vez mais rasinhos, com pífio impacto e capacidade de refletir sobre a condição humana, nuances da psiquê, vez que a única condição humana que vemos é sempre relacionada ao panorama social e político -- e as pessoas achando super normal que o governo faça uma verdadeira lobotomia em tudo que é entretenimento. 

Voltando ao foco, a gente logo se situa se ele é culpado ou não. Isso é mostrado antes do terceiro episódio. O pai vê o vídeo que mostra o seu filhinho querido, o anjinho de candura que reencarnou ali, matando a menina que o menosprezou gostoso, sem dó nem piedade, porque ela também não valia nada, uma biscate que gostava de ser a tal da popular na escola e talvez, quem sabe, até adoraria jogar roleta russa com os calibres mais irados que encontrasse. Se bem que, naquela idade, nem lembro se havia calibre bom nesses ambientes escolares. Hoje tenho 47 anos e vejo esse povo todo como crianças.

Voltando de novo ao foco, o pai é um bunda mole, perdedor, fracassado, frustrado, que nem para ir ao cinema no dia do próprio aniversário prestou, porque a vontade da mulher se sobressaiu à dele, pois, para ela, valeria mais a pena ficarem todos em casa, remoendo o tragédia do filho preso, o crime que ele cometeu, a vizinhança na defensiva com eles. Ele até tentou ter um dia bom ao lado dela e da filha [irmã mais velha do pequeno Chuck em forma de gente], mas, na hora de ir ao cinema, que era o melhor momento em família, a bonita esperou todo mundo se arrumar para fazer seu drama e deixar todo mundo ainda mais triste. Uma bosta!

Não sei o que foi pior nessa produção: as causas embutidas a troco de nada, os pais que se culpavam, ou os dois terços de conteúdo completamente desnecessários. 

Vou dar um spoiler do momento final:

Quando a família dó-ré-mi voltava para casa após o homem se estressar por aí, o anjinho ligou, do pedacinho de céu onde está detido, e, após dar os parabéns ao pai, ficou querendo trocar uma ideia sem nenhum assunto. Serviu para vermos que quando o dia está uma bosta, sempre pode piorar. No meio daquele chove e não molha, nem caga e nem sai da moita, o pequeno Chuck falou que ia se declarar culpado -- o que caiu como uma bomba na consciência dos pais que, até então, queriam se enganar a respeito, mesmo o pai tendo visto o vídeo. Aquela tinha sido uma confissão a eles. O que mais restaria para se agarrarem pateticamente? Nada. 

Horas depois, todo mundo pronto para ir ao cinema, apesar do clima de velório, a mulher convence marido e filha a ficarem remoendo as agruras em casa. Enquanto as duas vão preparar algo que as engorde, o pai entra por um minuto no quarto do filho e tem uma crise de choro. Fim.

Deixando de lado esse estilo feio de contar, falando sério agora, a única cena que prestou, nessa produção inteira, foi esse final. O pai em mil pedaços, vendo-se completamente impotente diante do sistema que não terá piedade de seu filho homem. A cena do ursinho aperta o nosso coração, pois somos eternamente meninos e meninas aos olhos de nossos pais. E o seu menino, infelizmente, não terá as fases que todo menino vivenciará durante o desenvolvimento de sua vida. Ele está nas garras do sistema. 

Esse ator merecia um prêmio, não apenas por esse momento, que foi forte e disse mais que mil palavras sobre a dor de um pai ao "perder" seu filho, mas ele praticamente carregou a série nas costas.  

"Adolescência" é aquele prato requintado que poucos gostarão de apreciar. É preciso mais do que sensibilidade aguçada. É preciso QUERER apoiar a ideia. 

10 comentários:

  1. "Foi como sair da água e se lambrecar no óleo."

    Ainda não vi Prison Break. Mas dizem ser uma ótima série. No meu caso, ver Adolescência foi como chafurdar na bosta. Tecnicamente, a série é bacana pela edição. Mas é chato demais e sem sentido a não ser passar a mensagem dos perigos dos "incels". O que estranha, aliás, pois um guri com 13 anos de idade deve ser, sim, incel, oras. Gostei de seu título: ABORRESCÊNCIA. Abraços

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    1. Eu entendi a série como um grande drama dos pais que perdem seu filho para um sistema impiedoso onde lá as crianças pagam, sim, pelos seus crimes. Não importa se o filho tem transtorno mental ou apenas surtou de momento por causa da escrotidao da outra. Cometeu o crime, vai pagar. O fato do menino ser um psicopata mirim só serviu para aliviar a gente, mas pare e pense numa coisa: o fim mostrou os pais acabados, pais que fariam tudo para que seu filho, mesmo sendo o monstro que era, fosse solto e voltasse a conviver com eles. Ao pai, a desilusão de "perder" seu filho para o mundo cruel. O mundo que o corrompeu e fez com que ele se tornasse o que pai nenhum quer ao seu filho ainda tão jovem: um assassino. E a wegunda perda: o sistema o condenará e ficará com ele, pois eu duvido que o pai acharia ruim se o filho fosse solto.
      Esse foi o entendimento que tive da série: o sofrimento de pais que tiveram seu projeto de vida familiar frustrado. Você precisa ver a avó do William e a mãe do Roberto, como elas choram porque seus filhos estão longe Willian está no hospital psiquiátrico e o Roberto foi para outro Estado (tem parentes lá). Elas estão se lixando se eles batem e matam. Elas só querem eles ali, na barra da saia delas.

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  2. Eu gostei da série. Vi com meu filho. Discutimos algumas cenas, a relação da família, as consequências dos nossos atos. O ator que faz o papel do pai e que me parece ser o produtor também da série, Stephen Graham , é um grande ator mas quem me impressionou mesmo foi a atuação do garoto, Owen Cooper , que aos 15 anos deu um show de interpretação.
    E o que me pegou também foi a produção ser feita em "plano sequência", gosto demais desse formato.

    Vi Prision Break, e é show.

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    1. Você é um pai muito bom. Saiba que nem todos são assim. Você sabe.

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  3. Gosto de tramas que abordam os dois lados do crime, principalmente os focados na família, tanto que me agrada muito a obra 'Precisamos falar sobre o Kevin', não sei se já ouviu falar. Nela o foco é na mãe que não queria ter filhos, não foi uma boa mãe e levanta muito o questionamento se a culpa do surto do muleque foi dela ou se era algo nele desde o início, já que o guri sempre foi estranho. Essa abordagem psicológica e todo o questionamento que levanta é bem bacana, principalmente levando a minha área que é a educação. MAAAS acredito que tem que ser muito bem feita. Essa série, Adolescência, me passou exatamente isso que tu disse. O drama era que o filho seria educado pelo sistema pq se ele fosse libertado, a família seguiria sua vida e tentaria esquecer aquele episódio.
    Produções assim levantam muitas discussões mas nos dias atuais, a maioria delas acaba sendo vazia, né? Uma pena..
    Infelizmente, em época de internet, o diálogo familiar tem que ser recorrente mas é cada vez mais difícil. Envelhecemos rápido nessa era de internet, nos tornamos ultrapassados. Estou com trinta anos e me sinto bem mais velha quando converso com minhas primas de quinze. O tempo voa e não estamos acompanhando.

    Obs.: pelo visto, também sou uma putona-mor na internet e nem sabia kkk

    Abraço

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  4. "...se ele fosse libertado, a família seguiria sua vida e tentaria esquecer aquele episódio." - com certeza, você captou bem a mensagem. Seria bem legal se fôssemos educados a discutir muitos pontos sobre o filme,, mas a Internet se tornou um local onde ninguém quer pensar muito nas facetas do ser humano e na complexidade que é lidar com a família.
    Você já está com trinta? Moça ainda. Ter paciência com essa moçada de 15 anos? Vixe, acho que prefiro fugir deles.
    Um abraço ☕️ ❤️

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  5. Fabiano,
    Tenho refletido sobre essa
    inversão de valores no geral.
    Mas essas figurinhas eu ando
    confusa porque não sei mais
    se eu evito usa-los ou se ignoro
    e sigo usando, uma vez que de meus
    amigos de whatsapp só você detem
    essas informações, os demais
    são velha guarda como eu. E nem
    com minha neta eu falo por whatsapp.
    Quanto as séries não assisti nenhuma
    delas, mas assim que meu dia a dia
    se acalmar, vou me sentar na minha
    sala e vou conferir as duas. Aqui em
    casa assisto a maioria de meus programas
    sozinha, porque meu par aprecia filmes
    de ação, meus filhos gostam de realitys
    e programas de humor... então,
    espero as oprtunidades e assisto
    sozinha.
    Adorei mais essa publicação sua.
    Bjins
    CatiahôAlc.

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    1. Fiquei muito surpreso com essas coisas quando vi. Para mim, é tudo carinho, apoio, incentivo. Não pensava que essa juventude olhava os memes dessa maneira. Continuo usando da mesma forma que acho conveniente.

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  6. Vou tentar ver ainda neste fim de semana, pois estou bastante curiosa com a abordagem da série, mas também devido à atenção que ela teve!

    Bjxxx,
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    1. Agora você já sabe demais sobre ela, espero que isso não estrague sua experiência.

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